segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

BRUNO VITTIE HAIRSTYLING

BRUNO VITTIE CRIOU UM ESPAÇO A PENSAR EM SI EM MATOSINHOS NÃO DEIXE DE FAZER A SUA VISITA .

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quarta-feira, 23 de setembro de 2009


BRUNO VITTIE

Cabelo

Este é capaz de ser um dos tópicos mais atípicos. E porquê? Porque é escassa a bibliografia sobre este tema. A não ser nas revistas de modas e nos manuais de cabeleireiro, claro! Mas aí não tratam da semiologia do cabelo. No entanto, o cabelo tem uma significação tão forte que até há certas concepções do mundo que obrigam as mulheres a ocultá-lo. Mas não se pretende, aqui, debater essa proibição de as mulheres usarem o cabelo destapado ou a nu. (Ai!, que isto já está a tornar-se demasiado erótico.)É preciso, porém, não confundir entre a interdição de mostrar o cabelo, e, por outro lado, o uso de lenço na cabeça, como peça de adorno, ou por ser um hábito antigo, especificamente nas zonas rurais, em qualquer parte do mundo.E se este tema começa com uma referência às mulheres, isso resulta do facto de que elas são, no fim de contas, o núcleo em função do qual uma sociedade se define. Na verdade, o lugar da mulher na sociedade é o indicador mais importante do nível de civilização, isto é, de democracia e de liberdade. Quanto mais as mulheres estão marginalizadas do poder, menor é o grau de democracia. Quanto mais as mulheres são discriminadas, menor é o grau de liberdade. E o caso mais degradante é a redução da mulher à condição de bichinho de estimação para efeito decorativo, que é o que acontece nos videoclips da chamada “música” hip hop.Afinal este texto é para falar da mulher ou é para falar do cabelo? Acontece que os dois temas não estão desligados, uma vez que o cabelo foi, ao longo dos tempos, um sinal de diferenciação sexual.Ao abordar este aspecto, é preciso ter em conta que o cabelo é uma parte do sistema piloso. Ora, os pelos são uma das componentes que fazem parte dos “caracteres sexuais secundários”. Esta noção foi criada por Charles Darwin e designa as particularidades físicas do ser vivo, macho ou fêmea, que não estão ao serviço imediato das relações sexuais e da procriação. E o psicólogo Havelock Ellis, no seu livro “Psicologia do Sexo”, diz, sobre o cabelo, que “ele é sexualmente a parte mais notada do corpo feminino, depois dos olhos”.Acontece que a ocultação do cabelo não deixa de provocar um certo efeito sensual. É que o erotismo tem muito mais a ver com o que se oculta do que com o que se mostra. Porque o que está oculto faz a imaginação abrir as asas. E é principalmente por isto que o erotismo se diferencia da pornografia.Por outro lado, a supremacia do efeito sensual dos olhos pode tornar-se maior quando, além do cabelo, também a parte inferior do rosto está coberta por um véu.Mas este texto nem sequer era para falar destas coisas. Acontece que, por vezes, o texto toma o freio nos dentes, e põe-se a galopar por inesperados relvados.Regressando ao cabelo: no seu livro “Psicologia da Actualidade”, Emílio Servadio afirma que, nos nossos tempos, os cabelos são “valorizados como um ornamento do qual se pode ter orgulho”.Ao observar o cabelo como ornamento, é preciso ter em conta a diferença entre homens e mulheres. E também a diferença entre cabelos lisos e cabelos crespos ou anelados. O facto mais admirável, no que diz respeito a estes aspectos, é que parece haver uma tendência de troca de papéis. Os homens passaram a usar penteados que, antes, eram tipicamente femininos. Os homens de cabelo crespo usam o cabelo trançado em penteados muito bem desenhados; os de cabelo liso passaram a usar rabo-de-cavalo.As mulheres de cabelo crespo querem, a todo o custo, usá-lo liso e desfrisam-no; as mulheres de cabelo liso optam por penteados do estilo dito “afro”.Até parece que cada qual não deseja ser ele próprio, só anseia ser o outro.É claro que nem toda a gente segue estas tendências. Aliás, no plano individual, o modo como cada pessoa usa esse ornamento é altamente eloquente quanto ao perfil psicológico, social e cultural dessa pessoa.Pode fazer-se a leitura, por exemplo, dos diferentes penteados das mulheres: cabelo trançado; desfrisado; penteado em ondulações (chamava-se “permanente”); envolvido num lenço; oculto por um véu; rapado.O caso do uso de mechas merece menção especial. Não serão também estas um meio de ocultar o cabelo natural? Mas o mais saliente é o seguinte: a atracção suscitada pelo cabelo está associada ao sentido da visão, mas também do tacto e do olfacto. Sendo assim, que espécie de sensualidade pode ser atiçada pelas mechas?No caso dos homens, que leitura se pode fazer da moda masculina do cabelo rapado? E da moda rastafári?O cabelo é também um sinal do tempo, porque segue a moda e esta muda. Mas também é sinal do tempo de vida, quando a cor do cabelo começa a mudar, ou quando ele começa a cair.Para além de tudo isto, o cabelo pode ser ainda outra coisa: um bom tema para uma tese de licenciatura na área da Psicologia Social. Título da tese: “A função do cabelo na preservação da identidade cultural, na era da globalização”. Mas, atenção!, lá porque o cabelo faz parte dos “caracteres sexuais secundários”, não é preciso confundir “preservação”, com “preservativo”.